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A cobertura especial d’A Feira do Livro, que acontece de 14 a 22 de junho, é apresentada pelo Ministério da Cultura e pela Petrobras

MINISTÉRIO DA CULTURA E PETROBRAS APRESENTAM

O autor mineiro Humberto Werneck (Flavio Florido)

A FEIRA DO LIVRO 2025,

A crônica é um forasteiro que se aclimatou bem ao Brasil, diz Humberto Werneck

O autor mineiro e Fabrício Corsaletti tentam chegar a uma definição do gênero literário, no quarto dia d’A Feira do Livro

17jun2025

“Se não é aguda, é crônica”. A frase de Rubem Braga foi relembrada pelo autor mineiro Humberto Werneck na mesa Uma viagem no país da crônica, que estava lotada na tarde desta terça (17). Junto com o também cronista Fabrício Corsaletti, Werneck discutiu as indefinições do gênero, destacando sua proximidade com o leitor, o tom subjetivo e o olhar sobre o cotidiano. A mesa foi mediada por Ana Lima Cecilio, curadora da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip).

Os convidados não chegaram a um significado fechado, mas ensaiaram tentativas interessantes. “O bom cronista é alguém sentado ao meu lado no meio fio”, disse Werneck, que acaba de lançar Viagem no país da crônica, pela Tinta-da-China Brasil. E Corsaletti, autor do lançamento Um milhão de ruas: crônicas 2010-2025 (Editora 34), complementou: “O cronista não é especialista, é como um amigo que você encontra para conversar”. 

A proximidade com o leitor foi apontada pelos dois convidados como uma das principais características da crônica, demandando que seu autor seja minimamente boa-praça. “Consigo imaginar um romancista canalha, um poeta escuso. Mas cronista é sempre gente boa. Ou pelo menos parece”, brincou Cecilio.

Outra característica é o estilo. Por isso, segundo Werneck, tentar recontar uma crônica de Rubem Braga, por exemplo, “não vai funcionar”. “É a maneira de escrever, é como o cronista seduz o leitor até o ponto-final.”

O cronista Fabrício Corsaletti (Flavio Florido)

Corsaletti, que também dá aulas de escrita, contou que muitos alunos tendem a classificar qualquer texto dentro dessa categoria, mas a crônica está mais ligada ao tom que se escreve. Para ele, o gênero espelha o que há de mais ordinário: “Tem algo a ver com o ser humano comum”. Já Werneck disse que gosta de pensar o gênero pelo que ele não é: “É uma contramão do jornalismo: enquanto ele quer atingir essa coisa inalcançável que é a imparcialidade, a crônica, quanto mais subjetiva e pessoal, mais puro sangue é”.

Tanto Werneck quanto Corsaletti estão lançando livros que espelham essa “definição não definida” da crônica, reunindo textos diversos. No caso de Werneck, são anedotas, “piscadelas literárias” e crônicas que escreveu para a seção Rés do Chão, no Portal da Crônica Brasileira, do Instituto Moreira Salles. Corsaletti misturou crônicas, poemas em prosa, textos curtos, todos com um “tom de crônica”. “Queria testar os limites do gênero”, explicou. 

No Brasil

A crônica não foi inventada aqui, mas encontrou um terreno fértil em solo nacional, com grandes contribuições de nomes como Machado de Assis, Manoel Rodrigues, Clarice Lispector, Carlos Drummond de Andrade e Fernando Sabino — a “era de ouro da crônica”, de acordo com os convidados.

“A crônica é um forasteiro que se aclimatou muito bem no Brasil”, afirmou Werneck, lembrando também de João do Rio, um “cronista andarilho”, definição que também pode ser estendida a Fabrício Corsaletti. “Sempre caminhei muito. Comecei a caminhar com a atenção voltada para escrever quando passei a colaborar com a Folha [de S.Paulo]. Não sou daqui [de São Paulo], saía para andar e me sentir mais à vontade com a geografia da cidade”, contou.

Escritas de um dia para o outro nas redações de jornais, com prazo e tamanho definidos, as crônicas podem ser melancólicas, irônicas, engraçadas, informativas e, por vezes, até elaboram sobre a falta de ideias para escrever. O que une esses textos talvez esteja na última frase da crônica “O maior verso da música brasileira”, presente na coletânea de Corsaletti: “Mentindo e falando a verdade”. “Adoro esse final, porque acho que fala muito sobre a crônica também, essa ficção sincera”, finalizou a mediadora.

A quarta edição d’A Feira do Livro 2025 acontece de 14 a 22 de junho, na praça Charles Miller, no Pacaembu. Realizado pela Associação Quatro Cinco Um, pela Maré Produções e pelo Ministério da Cultura, o festival literário paulistano, a céu aberto e gratuito, reúne mais de duzentos autores e autoras do Brasil e do exterior em uma programação com mais de 250 atividades, entre debates, oficinas, contações de histórias e encontros literários. Confira a programação e outras notícias do festival.

A Feira do Livro 2025 · 14 — 22 jun. Praça Charles Miller, Pacaembu

A Feira do Livro é uma realização do Ministério da Cultura, por meio da Lei Rouanet – Incentivo a Projetos Culturais, Associação Quatro Cinco Um, organização sem fins lucrativos dedicada à difusão do livro e da leitura no Brasil, Maré Produções, empresa especializada em exposições e feiras culturais, e em parceria com a Prefeitura de São Paulo.

Quem escreveu esse texto

Manuela Stelzer

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